Em maio de 2016, uma adolescente de 16 anos foi vítima de estupro coletivo no Rio. Há suspeita de que 33 homens estejam envolvidos no crime. |
RIO
- Jurada de morte por traficantes do Morro da Barão, na zona oeste do Rio, a
adolescente de 16 anos vítima de estupro na favela há 11 dias deixou nesta
terça-feira, 31, o Estado do Rio com a família. O secretário estadual de
Assistência Social e Direitos Humanos, Paulo Melo, contou que ela está muito
assustada, “disposta a mudar de vida”, e que não terá celular nem computador
com internet, para que não entre em contato com pessoas que possam descobrir
seu paradeiro.
Incluída
no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, a jovem
entrou em pânico ao saber da ira dos criminosos do morro, que decretaram sua
execução. Isso porque a divulgação do crime, ocorrido depois de ela participar
do baile funk da favela, na madrugada do dia 21, chamou a atenção da polícia
para o bando.
A
adolescente declarou, no primeiro depoimento à polícia, que procurara o “dono
do tráfico” para reclamar que seu celular havia sido roubado e contar que havia
sido estuprada. A exposição dos criminosos, que passaram a ser procurados,
motivou a sentença de morte.
“Fiquei
estupefato com a maturidade e a tranquilidade dela. Ela quis entrar sozinha na
sala para falar comigo, e não com a avó. É inteligente, articulada e madura.
Mas está assustada, recebeu ameaças de traficantes e até de gente de fora do
Estado. Estava com pressa de ir embora do Rio”, disse o secretário, que
anteontem esteve com a vítima por uma hora. “Não perguntei sobre a vida sexual
dela. Fazer sexo com menor é crime, divulgar imagem dela sendo bolinada é
crime.”
Família. A adolescente já havia deixado o apartamento
em que vivia com a mãe, o pai, o irmão, de 6 anos, e o filho, de 3, na sexta
passada. A família passou a ter escolta policial e, ontem, foi transferida de
vez. A avó materna foi junto. É ela quem tem estado com a adolescente nos
contatos com policiais, advogados e defensoras públicas. O pai, idoso, tem
dificuldade de fala e locomoção, sequela de um acidente vascular cerebral
(AVC). A mãe cuida do neto.
A
família morava num condomínio de classe média na Taquara, zona oeste, havia
cerca de três anos. O prédio fica a 6 km do Morro da Barão, que a adolescente
frequentava não só em noites e madrugadas de baile funk. Ela convivia com
pessoas ligadas ao tráfico, a quem já conhecia: antes de se mudar para
Jacarepaguá, a família viveu em Honório Gurgel, zona norte, perto do Morro
Jorge Turco, cujo comércio de drogas era dominado pelo mesmo bando que hoje
está no Barão.
O
“chefe” local é Sergio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa, gerente de Luiz
Claudio Machado, o Marreta, preso em 2014 no Paraguai. Da Russa é um dos seis
acusados do crime e está foragido. Marreta é um dos líderes da facção criminosa
Comando Vermelho (CV).
A
vida escolar da garota foi atrapalhada pela gravidez precoce. Ela já não
estuda. Evangélico, o pai tentava mantê-la em casa, mas ela fugia.
“É
uma menina que se criou sozinha. O pai prendia demais, botava de castigo, mas
não adiantava. A filha fugia de casa, e um dia, apareceu grávida. Ela se
destaca na comunidade, é bonita, e aquele passou a ser o mundo dela. Só que ao
ser ameaçada, até mesmo de ser queimada viva, entrou em pânico”, descreveu um
funcionário do Estado que presenciou relatos da vítima.
Ela
agora se comprometeu a não falar com pessoas do morro e a não dar entrevistas.
Os pais receberão suporte financeiro por dois anos, tempo que dura o programa
de proteção.
Presidente
do inquérito, a delegada Cristina Bento voltou a interrogar ontem os acusados
Raí de Souza e Lucas Perdomo Duarte dos Santos. O teor não foi divulgado. Ainda
há quatro foragidos, entre eles Da Russa.
0 comentários:
Postar um comentário