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    sexta-feira, 17 de março de 2017

    Frigorífico vendia carne vencida e frango com papelão

    Executivos de diversas companhias e fiscais do Ministério da Agricultura foram presos na maior operação já realizada pela PF

     

    São Paulo – Vários frigoríficos são alvos, hoje, da Operação Carne Fraca da Polícia Federal. A lista inclui JBS e BRF, duas das cinco maiores exportadoras do país, reconhecidas como as maiores empresas de carne do mundo. Além delas, aparecem na decisão outros frigoríficos grandes e pequenos, como Big Frango e Peccin Agro Industrial. Este último é acusado de vender carne adulterada.
    O nome escolhido pela Polícia Federal não poderia ser mais literal. A investigação revelou que as companhias usavam em suas operações carnes podres com ácido ascórbico para disfarçar o gosto, frango com papelão, pedaços de cabeça e carnes estragadas como recheio de salsichas e linguiças, além de reembalar produtos vencidos.
    Trata-se da maior operação já realizada na história da PF, segundo a instituição, com mais de 1.100 policiais mobilizados em seis Estados (Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás) e no Distrito Federal.
    Entre os presos, executivos das companhias e fiscais do Ministério da Agricultura. A investigação aponta que os frigoríficos tinham influência para escolher os servidores que iriam efetuar as fiscalizações na empresa, por meio de pagamento de propina.
    Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais da BRF, e o vice-presidente José Roberto Pernomian Rodrigues (que já havia se envolvido em um escândalo anterior, na Cisco) estão na lista.
    As ordens foram expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR) e orientam 38 de prisão (27 preventivas e 11 temporárias), 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão locais supostamente ligados ao grupo criminoso.
    Carne podre
    A informação de que ao menos um dos frigoríficos usava carne podre em seus produtos está na decisão da Justiça Federal do Paraná e foi dada pela médica veterinária Joyce Igarashi Camilo.
    Ela era a veterinária responsável pelo frigorífico Peccin, em 2014, e afirmou que a empresa “também comprava notas fiscais falsas de produtos com SIF (Serviço de Inspeção Federal) para justificar as compras de carne podre, e utilizava ácido ascórbico para maquiar as carnes estragadas”.
    Normélio Peccin Filho e Idair Antônio Piccin, sócios do frigorífico, têm algumas de suas declarações mencionadas na decisão, que deixam claro o aval para práticas ilícitas dentro das normas de vigilância sanitária alimentícia.
    Em uma delas, autoriza o uso de presunto podre “sem cheiro” para a produção alimentícia. Em outra, Idair manda uma funcionária comprar 2.000 quilos de carne de cabeça para a fabricação de linguiça.
    IDAIR – Você ligou?
    NAIR – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
    IDAIR – É.
    NAIR – Ele quer te mandar 2000 quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
    IDAIR – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
    NAIR – Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga.
    IDAIR – Tá bom, mas vamos usar no que?
    NAIR – Não sei.
    IDAIR – Aí que vem a pergunta né? Vamo usar na calabresa, mas aí, é massa fina é? A
    calabresa já está saturada de massa fina, é pura massa fina.
    NAIR – Tá.
    IDAIR – Vamos botar no que?
    NAIR – Não vamos pegar então?
    IDAIR – Ah, manda vir 2000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina.
    NAIR – Na linguiça?
    IDAIR – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça…
    NAIR – Tá, seria só 2000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um
    pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho (ininteligível).
    IDAIR – O toucinho, primeira coisa, tem que ver que tipo de toucinho que ele tem.
    O que diz a JBS 
    Em relação à operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação.
    A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa (PR) houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura.
    A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas.
    A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A Companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos.
    A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.
    O que diz a BRF
    Em sua página de relações com investidores, a BRF publicou o seguinte a seguir, assinado pelo diretor presidente global, Pedro de Andrade Faria.
    A BRF, nos termos da Instrução CVM nº358, de 3 de janeiro de 2002, comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que, em relação à operação da Polícia Federal realizada na manhã desta sexta-feira, está colaborando com as autoridades para esclarecimento dos fatos.
    A companhia reitera que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas.
    A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.
    Fonte EXAME.com
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