Gabriel Damasceno é natural de Quixadá e atualmente mora em São Paulo (FOTO: Acervo pessoal) |
Aos 16 anos, Gabriel Damasceno realizou um feito que diversos jovens sonham em fazer: escreveu seu primeiro livro. Inspirado pelas aulas de História do Brasil e pelo conselho que ouviu em um vídeo do escritor Stephen King, o quixadaense criou a personagem Nita, a última índia sobrevivente do massacre que exterminou a tribo Cairú. A narrativa conquistou leitores inclusive no exterior.
Ao começar a escrever o romance “Nita Cairú e a Espada de Gohayó”, que logo garantiu espaço entre os livros mais vendidos da Amazon na categoria Literatura/Fantasia, Gabriel decidiu que não queria que se tratasse de um volume só, mas sim de uma trilogia, e logo vieram as ideias para a trama dos outros livros.
O segundo volume da saga, “Nita Cairú e a Poção do Híbrido”, já chegou às prateleiras, seguindo o sucesso de seu antecessor. Lançado na Amazon há pouco mais de um mês, o romance já é o 6º mais vendido na categoria Fantasia Contemporânea, junto de títulos internacionais.
O livro traz novos personagens, alguns emprestados de outras obras literárias, como a virgem dos lábios de mel Iracema e Visconde de Sabugosa, do Sítio do Pica-Pau Amarelo. “A intenção é traduzir para o que escrevo tudo aquilo que fez parte da minha infância. Quero agradecer as pessoas que me inspiram a escrever e fazer literatura. Vejo isso como um método”, explica o jovem.
Nita e os novos personagens participarão do Grande Jogo, um torneio de híbridos onde somente um poderá vencer e ganhar o direito de tornar-se humano novamente. No jogo, 13 participantes, cada um representando uma Capitania Hereditária do Brasil, forma como era dividido o país no período retratado da história.
A nova fase da vida do rapaz, que agora é estudante da Universidade Mackenzie em São Paulo, reflete em uma obra mais madura, que mescla a cultura indígena da protagonista com outras culturas, como a nórdica e a do Egito Antigo. Com novos personagens, a história ganha também novas dimensões, a partir de pontos de vista e dilemas que não se resumem à índia Cairú.
A personagem Iracema, emprestada do autor cearense José de Alencar, faz par romântico com outra índia, Araci, o que foi alvo de fortes críticas. “Eu sabia que isso ia mexer e dividir opiniões entre os leitores. Mesmo assim, eu não queria ficar preparado para o preconceito que viria a surgir”, explica. Mesmo o romance não sendo o foco do livro, Gabriel conta que recebeu vários e-mails e comentários reclamando da relação amorosa entre as índias.
Como resposta, o cearense, que recebeu o apoio de Helder Caldeira, autor do famoso livro LGBT “Águas Turvas”, decidiu doar 30% dos lucros das vendas para uma ONG que luta pelos direitos LGBTs e de soropositivos. “Estou tentando lidar da melhor forma possível”, revela.
O escritor, que entrou cedo no mercado da literatura, logo percebeu que não é fácil viver às custas da escrita em nosso país. “Atualmente estou trabalhando como atendente de mesa, em uma padaria aqui em São Caetano, pois com o dinheiro que recebo dos livros não consigo sobreviver. Espero ter um retorno maior agora com a turnê. Eu escrevo e o que ganho é para escrever mais, porque para sobreviver, infelizmente não é possível”, revela.
Em meio às críticas e às dificuldades, Gabriel diz que os leitores podem esperar um encerramento incrível para a saga, e que em breve a trilogia ganhará adaptação em HQ e animação. A turnê de divulgação de “Nita Cairú e a Poção do Híbrido” inicia em São Paulo, mas o cearense pretende levar também a outros estados. Mais informações sobre a turnê serão divulgadas em sua fanpage no Facebook.
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