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    quinta-feira, 17 de setembro de 2015

    Após quase seis décadas, irmãos se reencontram em Presidente Prudente

    Eles se separaram ainda na infância, no Ceará.
    Através de rede social na internet, jovens netas ajudaram no reencontro.

    Maria Antônia e Evaldo se reencontraram neste mês, em Presidente Prudente (Foto: Maria Sebastiana de Lima Menezes/Cedida)

     

    O que pode acontecer na vida de uma pessoa em pouco mais de meio século? Para se ter uma ideia, há exatos 57 anos o Brasil ganhava a sua primeira Copa do Mundo, na Suécia. Em 1969, o americano Neil Armstrong tornou-se o primeiro homem a pisar na lua. No início dos anos 80, o movimento das “Diretas Já” tomava conta do país e, no final da década, o mundo via a queda do Muro de Berlim, unificando novamente a Alemanha. Nos anos 90, a economia brasileira estabilizou-se com o início do Plano Real, que chegou a igualar a cotação em relação ao dólar, em 1998. Em 2001, o mundo parou para assistir à queda das Torres Gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e esperou dez anos até a morte do terrorista Osama Bin Laden. Em 2014, a Copa do Mundo voltou ao Brasil, que sofreu um fatídico 7 a 1 para a seleção da Alemanha, em pleno Mineirão.
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    Tudo isso – e muito mais – aconteceu neste período. Agora, imagine uma pessoa que ficou todo esse tempo separada da família. Foram dois mil, setecentos e dez quilômetros e 57 anos que separaram o agricultor Evaldo Cirino da Silva da sua irmã Maria Antônia da Silva de Lima. O reencontro aconteceu neste mês, no Jardim Cambuci, em Presidente Prudente, na casa de Maria (veja o vídeo ao lado).
    Tudo começou em 1958, na cidade de Lavras de Mangabeira, no Ceará. Naquela época, Evaldo e suas irmãs moravam numa fazenda, quando repentinamente perderam os pais. Os cinco irmãos ficaram com duas tias que se incumbiram de criá-los.
    Evaldo era o mais velho, tinha 11 anos, dois a mais do que Maria, e foi “dado” a um fazendeiro deJuazeiro do Norte (CE), que prometeu lhe dar condições de estudo, mas nunca cumpriu. Na época, as irmãs e as tias mudaram-se para Birigui, no interior de São Paulo.
    'Fiquei pra trás'
    “Quando eu percebi que o fazendeiro não ia me estudar e, sim, me usar como escravo nas terras dele, eu fugi. Voltei de Juazeiro para Lavras de Mangabeira, mas, quando cheguei lá, não encontrei mais ninguém. As minhas tias e irmãs tinham ido para Birigui e eu fiquei pra trás”, conta.
    Evaldo, hoje com 69 anos, tornou-se agricultor, casou-se e teve quatro filhos, “todos Vicentes e agricultores”. O nome é por causa da devoção a São Vicente de Paulo.
    “Meu filho mais velho é o Vicente e tem 42 anos. A menina se chama Vicenta Gerlândia e tem 37. O terceiro é o Vicente Roberto, de 36 anos, e o caçula, Vicente Ferrer, tem 32 anos. Todos seguiram a minha profissão e trabalham na terra”, relata.
    Já a dona de casa Maria Antônia da Silva Lima, hoje com 67 anos, mora em Presidente Prudente e sempre alimentou a esperança de um dia reencontrar o irmão.
    'Deus me deu essa graça'
    “Eu sempre pedia a Deus que me desse a alegria de um dia reencontrá-lo. E agora Deus me deu essa graça”, ressalta.
    Mas o reencontro só foi possível porque uma neta de Maria encontrou também uma neta de Evaldo numa rede social.
    “Eu comentei com minha filha se não era possível, por meio do computador, achar uma pista sobre o paradeiro do meu irmão. Ela conversou com a minha neta Yasmin, que fuçou até encontrar”, explica.
    Yasmin Carolina Lima Marques, de 18 anos, encontrou a prima Maria Ananda, da mesma idade, por meio de um perfil no “Facebook”.
    Depois de se falarem por telefone, a vontade e a saudade só aumentaram. Mas Evaldo não tinha condições financeiras para visitar a família no Oeste Paulista. Então, os sobrinhos dele fizeram aquela famosa “vaquinha” e bancaram a viagem. Tudo em segredo, para fazer uma surpresa.
    Os irmãos se separaram ainda na infância, quando viviam no Ceará (Foto: Maria Sebastiana  de Lima Menezes/Cedida)Os irmãos se separaram ainda na infância, quando
    viviam no Ceará
    (Foto: Maria Sebastiana de Lima Menezes/Cedida)
    'Quase morri do coração'
    “Eles me contaram uma mentira. A minha filha disse que uma amiga vinha de Minas para prestar um concurso e que ela ia almoçar aqui em casa. Quando abri o portão, quem estava lá não era amiga coisa nenhuma, era o meu irmão. Quase morri do coração, mas foi muito bom reencontrá-lo depois de tanto tempo”, relata Maria.
    O agricultor esteve em Presidente Prudente neste mês e, em seguida, toda a família partiu para Araçatuba (SP). Eles encontraram as duas irmãs Josefa Cirino da Silva e Maria Cirino da Silva, que moram em Araçatuba e Birigui, respectivamente. A outra irmã, Maria Eulina Cirino da Silva, faleceu quando tinha 22 anos.
    Evaldo retorna a Presidente Prudente junto com a irmã Maria Antônia na noite desta quinta-feira (17). Ele ficará na cidade até segunda-feira (21), quando embarcará para Lavras de Mangabeira, no Ceará, e espera que o próximo encontro ocorra em breve.
    “Agora eu já visitei a minha família aqui em São Paulo. Eu quero que meus irmãos apareçam lá no Ceará para conhecer os meus filhos. Uma coisa é certa: a saudade sempre vai existir, mas é muito bom saber que eles estão bem. Poder associar uma imagem ao rosto de cada um, lembrar com carinho cada minuto que passei aqui. Claro que isso não substitui a ausência de 57 anos nas nossas vidas, mas poder conversar, mesmo que só um pouquinho, diminui e muito esse sentimento”, conclui.
    (Com a colaboração de Claudionor Paschoalotto, da TV Fronteira).
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