Na maioria dos anos em que há atuação do El
Niño , o período de precipitações no Ceará é irregular e tende a ficar abaixo da média (Foto: Alex Pimentel/Diário do Nordeste) |
Os modelos
atmosféricos atuais apontam que o trimestre (novembro em curso, dezembro
próximo e janeiro de 2016), no Semiárido do Nordeste, terá chuvas abaixo da
média. Essa é a maior probabilidade. A previsão é do Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) e da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). O
quadro é desfavorável por influência do fenômeno El Niño. A primeira previsão
climática para a quadra chuvosa (fevereiro a maio) de 2016 somente será
divulgada pela Funceme na segunda quinzena de janeiro.
"A
pré-estação chuvosa no Ceará ocorre em dezembro e janeiro, com precipitações
influenciadas por formação de vórtices ciclônicos", explica o
meteorologista da Funceme, Leandro Valente. Para o Sul do Nordeste, áreas da
Bahia, Piauí e Maranhão no mês de novembro geralmente ocorrem as primeiras
chuvas de pré-estação no decorrer deste mês. "Terminada a primeira
quinzena de novembro, ainda não estamos observando essas dinâmicas
atmosféricas", disse Valente. "É preciso ressaltar que as previsões
de pré-estação têm por base modelos com grau de confiança baixo".
Os
meteorologistas da Funceme lembram que ainda é cedo para previsões sobre a
próxima quadra chuvosa, entretanto os indicadores atuais apontam para uma
tendência maior de chuvas abaixo da média por causa da intensidade do fenômeno
El Niño. "Isso é uma grande preocupação para todos nós", frisou
Valente. "O El Niño não é o único fator determinante, mas interfere para
não formação de nuvens de chuva". Haverá chuvas em 2016? Sim, mas os meteorologistas
observam: não basta apenas chover, é preciso que as precipitações ocorram no
lugar certo, de forma intensa e em curtos espaços de tempo para que ocorra
recarga dos açudes.
"O
solo está seco, vai sugar as primeiras águas e a distribuição espacial e
temporal é fundamental para formação de reservas hídricas no Ceará". Para
a pré-estação no Semiárido nordestino, o Cptec fez previsão distribuída em três
categorias: há probabilidade de 25% das precipitações ficarem acima da média,
35% dentro da média e 40% abaixo do normal para o trimestre - novembro e
dezembro de 2015 e janeiro de 2016.
Dezembro e
janeiro são meses que antecedem a quadra chuvosa no Ceará. É o período de
observações e experiências populares acerca do período chuvoso que se aproxima.
Para os cientistas, é o início das primeiras previsões climáticas e o anúncio
de primeiro prognóstico para 2016. O quadro, infelizmente, não é favorável.
A presença
do El Niño vem se intensificando nos últimos meses e, atualmente, excede em 3º
graus centígrados os valores médios históricos na área mais central do Pacífico
Equatorial. "A evolução desse aquecimento continuará no trimestre até o
fenômeno atingir sua máxima intensidade", observa boletim do Ceptec.
O quadro é
de preocupação, afinal já são quatro anos seguidos de chuvas abaixo da média e
perda seguida das reservas hídricas desde 2012. A Funceme já divulgou relatório
sobre os dados desfavoráveis para a quadra chuvosa vindoura, embora sejam
estudos preliminares e as condições climáticas podem ser modificadas. O governo
está em situação de alerta mediante um cenário que pode tornar-se catastrófico:
perda das reservas hídricas, que estão se exaurindo, nos açudes, levando o
colapso a um maior número de cidades do Interior do Ceará.
A
probabilidade atual é de 95% do El Niño permanecer ativo nos meses de março,
abril e maio de 2016, período em que ocorre a quadra chuvosa no Estado. É uma
taxa muito elevada. "Esse índice é do El Niño e está presente",
esclareceu recentemente o meteorologista da Funceme, David Ferran.
Na maioria
dos anos em que há atuação do El Niño, o período de maiores precipitações no
Ceará é irregular e tende a não atingir a categoria em torno da média
climatológica. Ou seja, é seca. As reservas hídricas restantes estão se
exaurindo. A média dos 153 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh) é de apenas 13,8%.
Otimismo
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Natália Feitosa, demonstra fé e acredita que a situação será diferente das previsões iniciais. "Deus não vai nos abandonar e creio que no próximo ano teremos boas chuvas".
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Iguatu, Natália Feitosa, demonstra fé e acredita que a situação será diferente das previsões iniciais. "Deus não vai nos abandonar e creio que no próximo ano teremos boas chuvas".
No campo,
contudo, o cenário é de aflição. O acesso à água potável é cada vez mais
difícil. As cisternas de placas secaram, e os poços estão com o lençol freático
cada vez mais escasso. O meteorologista Raul Fritz observa que é necessário
ocorrer chuvas intensas e seguidas em curto espaço de tempo para ocorrer
recargas nos açudes em decorrência da geografia do sertão cearense. As chuvas
no total podem ser acima da média, mas, se forem espaçadas e de reduzida
pluviometria, não favorecem à recarga dos reservatórios.
Fonte: Diário
do Nordeste
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