A instabilidade econômica na China e o cenário político brasileiro levaram o dólar a fechar cotado
a R$ 3,45 nesta segundafeira (3). Foi a terceira alta seguida da moeda americana, que segue
no maior patamar desde 20 de março de 2003.
O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,94%, para R$ 3,452. O dólar comercial,
usado em transações no comércio exterior, fechou com valorização de 0,84%, para R$ 3,454. Na máxima do dia, ambos atingiram R$ 3,46.
No mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em baixa de
1,43%, para 50.138 pontos. Destaque para a queda das ações do Bradesco, que fecharam em
baixa após o banco anunciar a compra das operações do HSBC no Brasil.
As notícias envolvendo a economia chinesa continuam desapontando. O indicador de atividade
industrial do país recuou de 49,4 para 47,8 em julho, em medição feita pela Caixin Media (antes
HSBC) e divulgada pela Markit. Foi o menor nível em dois anos e o quinto mês seguido com
resultado abaixo da marca de 50, o que sinaliza contração.
"A desaceleração afeta os preços de commodities e tem reflexo nos emergentes, que exportam
para a China", afirma Carlos Pedroso, economista chefe do Banco de TokyoMitsubishi. Das 24
principais moedas emergentes, apenas duas conseguiram fechar em alta em relação ao dólar
nesta sessão.
Além do componente externo, a expectativa de um corte do selo de bom pagador do Brasil pelas
agências de classificação de risco também pesou, afirma Fernando Bergallo, diretor de câmbio
da TOV Corretora. "O mercado não vai ficar esperando o corte da nota para agir. Os investidores
sentem os indícios e já se posicionam, comprando a moeda, mesmo que um eventual
rebaixamento só ocorra no ano que vem", diz.
Apesar de antecipar o anúncio do rebaixamento, o dólar ainda não absorveu completamente o
impacto do corte da nota, complementa o diretor da TOV. "O rebaixamento não foi precificado
por inteiro. Se o corte de fato acontecer, o dólar chega a R$ 4. Mas enquanto isso não ocorre, o mercado vai reagindo às notícias que vão saindo", ressalta.
Com o fim do recesso no Congresso, medidas fundamentais para equilibrar as contas do governo devem ser votadas, como a que aumenta a alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido) de bancos, seguradoras e administradoras de cartões de crédito. Novas
derrotas devem pressionar a cotação da moeda americana.
"A redução da meta do superavit já aumentou o risco de rebaixamento. Se os ajustes e votações
no Congresso forem piores do que o governo espera, isso pode aumentar o risco e a tensão no mercado", afirma Pedroso, do Banco de TokyoMitsubishi.
BANCO CENTRAL
A autoridade monetária decidiu manter sua rolagem parcial dos contratos de swaps cambiais
(equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), o que também contribuiu para pressionar
em alta a moeda americana. Nesta sessão, foram vendidos 6.000 contratos com vencimento em
setembro, com volume de US$ 289,6 milhões, ou cerca de 3% do lote para o mês que vem, que
equivale a US$ 10,027 bilhões.
Se mantiver esse ritmo e realizar leilões até o penúltimo pregão do mês, como tem feito, o BC
rolará 60% do lote total, fatia aproximadamente igual à rolagem dos contratos para agosto.
Para Bergallo, da TOV Corretora, a sinalização já era esperada, afirma Bergallo. "Nenhum Banco
Central compra briga com o mercado. O BC intervém quando há uma situação pontual ou um
ataque especulativo, mas não quando é uma questão pautada em fundamentos econômicos",
ressalta.
BOLSA
A queda das ações do Bradesco foi a notícia do dia. Os papéis preferenciais do banco
encerraram com queda de 3,12%, para R$ 26,43, e os papéis ordinários caíram 0,94%, para R$
27,40.
"O mercado entendeu que a compra foi cara. O Bradesco justificou a operação pelas sinergias
com o HSBC, mas há também a possibilidade de que a desaceleração econômica impacte a
carteira de crédito do HSBC, o que afetaria os negócios do banco", afirma Linican Monteiro,
executivo da equipe de análises da Um Investimentos.
As turbulências na China impactaram os papéis da mineradora Vale, que caíram. As ações
preferenciais caíram 1,84%, para R$ 14,38. Os papéis ordinários fecharam em baixa de 1,57%,
para R$ 17,59.
As ações da Petrobras também fecharam em baixa, afetadas por nova queda nos preços do
petróleo no mercado internacional e também pela nova fase da Operação Lava Jato, com a
prisão do exministro da Casa Civil José Dirceu pela Polícia Federal.
As ações mais negociadas da petrolífera caíram 4,57%, para R$ 10,02, e as com direito a voto
sofreram desvalorização de 5,18%, para R$ 10,98.
Fonte: Folha.com
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