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    quinta-feira, 13 de agosto de 2015

    Protesto contra a Transnordestina

    Os manifestantes reclamam, dentre outras coisas, da intensa poeira provocada pelo tráfego de veículos

    O baixo preço das desapropriações está sendo questionado pelos moradores
     ( Fotos: Honório Barbosa )
    Iguatu Moradores do distrito de José de Alencar, zona rural deste município, na região Centro-Sul do Ceará, realizaram na manhã de ontem uma manifestação contra as obras de construção da Ferrovia Transnordestina. Os serviços foram paralisados por duas horas. As famílias apresentaram várias reivindicações. A principal é a manutenção do acesso por antiga estrada vicinal para diversas localidades. 

    O protesto foi organizado pelo Movimento dos Atingidos pela Ferrovia Transnordestina no distrito de Alencar (Mata) e contou com
    cerca de uma centena de participantes. "Não podemos aceitar o fechamento da estrada que é antiga e dá acesso a dezenas de localidades", disse o agrônomo Paulo Maciel, diretor do Instituto Rio Jaguaribe. "Além desse problema, a obra apresenta impactos ambientais, sociais e econômicos, atingindo as famílias de pequenos agricultores". 

    O pequeno produtor rural, Pedro Braz, disse que a obra de implantação da Ferrovia Transnordestina modifica de forma intensa a paisagem rural de várias localidades. "As nossas terras são pequenas e foram divididas ao meio, ficamos sem acesso às fontes de água e com dificuldades de trânsito na propriedade e para outros sítios", afirmou. "Muitos estão prejudicados e sem a estrada principal a situação fica mais complicada". 

    Moradores das localidades de Cajá, Logradouro, Várzea de Fora, Junco, Croatá, Várzea Grande, Aroeira, além de representantes do Instituto Rio Jaguaribe, da Câmara de Vereadores e da secretaria de Agricultura do município participaram do ato público. "Somos solidários aos moradores que temem pela perda da estrada que dá acesso a várias comunidades rurais", frisou o vereador, Pedro Lavor. Outro integrante do legislativo municipal, Antônio do Carmo, disse esperar que a empresa responsável pela obra atenda às reivindicações dos moradores. 

    "Infelizmente, o governo faz um projeto enorme e em vez de ajudar os moradores dos sítios, traz prejuízo para todos nós", disse o agricultor Luís Oliveira. "Sem essa estrada, todos serão prejudicados". O temor dos moradores é que a partir da implantação da ferrovia ocorra a perda do acesso antigo de ligação entre as localidades por meio de uma estrada de terra vicinal), obrigando-os a trafegar cerca de 20 km a mais. "Se isso ocorrer será uma injustiça", disse a dona de casa, Ana Cláudia Braz. 

    O Movimento dos Atingidos pela Ferrovia Transnordestina em Alencar relacionou 12 problemas que seriam causados pela obra. Os principais referem-se à intensa poeira provocada pelo tráfego de veículos pesados, destruição das estradas vicinais, fuga e perda de animais, risco de acidentes, divisão dos terrenos, dificuldades de produção, desvalorização das propriedades rurais (maioria minifúndios), impedimento de trânsito de animais de um lado para outro das áreas de pastejo, risco de inundação, quebra de tubulações de água, baixo preço pago pelas desapropriações e questões ambientais. 

    O agrônomo Paulo Maciel mostrou que a obra vai ocasionar afugentamento e impedimento da movimentação da fauna natural; desmatamento de espécies arbustivo-arbóreas da caatinga; modificação dos cursos naturais de riachos e córregos, além de barramento de várzeas. Representantes da Transnordestina Logística e da empresa responsável pela obra, construtora Marquise, asseguram que a estrada não será bloqueada permanentemente. "Será feito um desvio de cerca de 300 metros e implantada uma passagem de nível", informou o engenheiro da Transnordestina Logística e fiscal da obra, Fábio José da Vitória e Silva. "Temos de observar a segurança operacional da via". 

    A assistente social da Tatyana Sampaio permaneceu reunida com os moradores atingidos pela obra para colher de cada um as queixas e solicitações, na sede da Associação Comunitária local. "Temos um programa de apoio às famílias atingidas pela obra, que analisa a desapropriação, impactos causados e procura minimizar os efeitos". 

    O encarregado geral da construtora Marquise, responsável pela obra, Naasson Rebouças, disse que a empresa está atenta às reclamações dos moradores e que algumas medidas já foram implantadas nos últimos meses como o desvio de tráfego de caçambas para reduzir a poeira, conserto de tubulação de distribuição de água para as casas, além de assegurar que o desvio será feito, garantindo o acesso dos moradores às suas localidades. A via férrea tem uma área de domínio de 80 metros de largura. Terrenos são cortados ao meio, há escavações e aterros de até 12 metros de altura, modificando a geografia da área rural. 

    A Ferrovia Transnordestina gera centenas de empregos temporários, trazendo benefícios diretos para várias famílias oriundas de outras cidades e de moradores locais, mas vai deixar uma mudança definitiva na paisagem do sertão cearense. "O trem vai trafegar em alta velocidade, sem deixar riqueza no semiárido, interligando portos e centros industrializados", observa Maciel. No Ceará, o projeto prevê a construção de 150 km no trecho entre as cidades de Missão Velha e Acopiara. Serão 526 km de estrada de ferro. 

    Fonte do Diário do Nordeste
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