Quando anunciadas em 2006, as obras da Nova Transnordestina, que liga os Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí, tinham previsão de conclusão em 2010. Já estamos em 2015 e as informações são de 51% de conclusão dos trabalhos. A expectativa, conforme o presidente da Transnordestina Logística S/A (TLSA), o ex-ministro Ciro Gomes, é de entrega do equipamento até junho de 2018. A presidente Dilma Rousseff estará no Ceará nesta sexta-feira (28) e, inicialmente, estava previsto na agenda presidencial que ela assinaria a ordem de serviço do quarto lote da obra, que triplicou o tempo de conclusão e multiplicou em quase 10 vezes o custo total. Contudo, a assessoria do Governo do Estado informou, no fim da noite de ontem, que esse compromisso foi cancelado.
Ao longo destes nove anos, a implantação da linha férrea sofreu com diversas paralisações que atrapalharam o andamento do trabalho. O ritmo das obras, classificado rotineiramente como lento, foi impactado por quebra de contrato da construtora e greve dos operários do canteiro.
Nos anos de 2011 e 2012, operários entraram em greve reivindicando aumento salarial. Alegando impossibilidade financeira de atender às reivindicações dos trabalhadores, diversos contratos individuais foram rescindidos de maneira unilateral, à época, pela construtora Odebrecht, então responsável pela obra. Em setembro de 2013, entretanto, a empreiteira rompeu o contrato com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por discordância no termo de precificação da construção da ferrovia.
Os prazos dados foram sendo esticados. Primeiro, 2010. Depois, foi dito que a ferrovia funcionaria em 2012. Nenhum se concretizou. Com a saída de Odebrecht, praticamente um ano inteiro foi perdido. Em 2014, o Diário do Nordeste</CF> denunciou o abandono do canteiro de obras de Missão Velha. Com os atrasos, mais promessas. O prazo passou para 2017. Agora, a expectativa do governo é 2018.
No Ceará os trabalhos para passagem da ferrovia tiveram início apenas em 2010 - ano em que o equipamento deveria ter sido entregue completo e já em pleno funcionamento. O programa, ao ser lançado, era considerado prioritário pelo então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. O empresariado também considera a importância da ferrovia para a economia do Nordeste, uma vez que vai reduzir os custos de transporte de material e, com isso, aumentar a produção, além de atrair mais empresas e investimentos para as cidades por onde o trem irá passar.
Valor
Há nove anos, quando apresentada oficialmente, a construção da linha férrea teria um custo de R$ 1,6 bilhão, que logo passou para R$ 4,5 bilhões. Ano passado, esse valor subiu para R$ 7,5 bilhões. Em abril deste ano, o Diário do Nordeste apurou que o custo ultrapassaria a quantia de R$ 11 bilhões.
A demora na conclusão das obras, bem como o recálculo de valor do equipamento, resultaram em suspeita de irregularidades na construção. O Tribunal de Contas da União (TCU) realizou fiscalização, porém não detectou irregularidades.
Impacto
Outra polêmica em torno da Nova Transnordestina diz respeito ao impacto causado nas 83 cidades por onde os trilhos passam. A intenção de ligar os portos de Suape (Pernambuco) e Pecém (Ceará) à região sudeste do Piauí, incide diretamente em mudanças drásticas nas vidas de quem vive pelo caminho.
Em pleno semiárido nordestino, o canteiro de obras contrasta com os animais que procuram pasto. Contudo, os agricultores e criadores temem pelo futuro. A obra, cortando principalmente minifúndios, inviabiliza a irrigação de grãos, de forragem e a lida diária com o gado.
Outra reclamação dos homens do campo é em relação às desapropriações. O valor pago - cerca de R$ 300 por hectare - não foi bem aceito. Desta forma, aproximadamente 17% das desapropriações ainda aguardam por solução.
O lote 4 da Nova Transnordestina terá 50 quilômetros de extensão, ligando Acopiara a Piquet Carneiro, num trecho que custará R$ 300 milhões. Para todo o trecho da Transnordestina no Ceará, serão necessários investimentos de R$ 3,7 bilhões até junho de 2018.
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